2025-12-15

35 anos da ADACB

Intervenção de Aníbal Cabral, presidente da Associação Distrital dos Agricultores de Castelo Branco (ADACB) proferida na sessão evocativa do 35º Aniversário da associação.

Caros Convidados, Associados,
Minhas Senhoras e Meus Senhores,

É com grande honra e um profundo sentido de responsabilidade que participo nesta sessão evocativa do 35º aniversário da Associação Distrital dos Agricultores de Castelo Branco.

Hoje, celebramos mais do que uma data. Comemoramos uma história de luta, conquista e, acima de tudo, união em defesa dos interesses dos agricultores desta região.

Em junho de 1990, no Salão dos Bombeiros do Fundão, 180 agricultores, num histórico Encontro Distrital, tomaram uma decisão unânime e corajosa: criar uma Associação sócio-profissional. Apenas seis meses depois, em dezembro, a escritura pública era formalizada.

Aquela decisão, num contexto difícil e de grande desconfiança, exigiu muita coragem. Foi necessário ultrapassar preconceitos e resistências para criar e consolidar uma organização capaz de enfrentar poderosos lóbis, que, na época, tentavam descredibilizar as entidades que defendiam os agricultores e os seus direitos.

Portugal tinha recentemente aderido à Comunidade Económica Europeia, e o setor agrícola preparava-se para grandes transformações. A CEE trouxe tanto novos desafios quanto oportunidades, mas a adaptação àquele novo contexto revelou-se árdua. Foi justamente nesse período que se consolidou a necessidade de uma representação forte e atuante para os agricultores do nosso distrito.

A Associação Distrital dos Agricultores de Castelo Branco nasceu, e desde o primeiro momento, com o objetivo claro de representar e defender os interesses dos agricultores, garantindo que tivessem a voz e a força necessárias para influenciar as instâncias do poder.

No plano reivindicativo, a Associação tem sido incansável. Lutamos por preços justos para a produção, pela redução dos custos de produção e por uma vida digna nos campos.

Denunciamos, sem hesitar, a injustiça na distribuição das ajudas públicas e a ausência de uma política que favorecesse a igualdade de oportunidades no setor agrícola.

A nossa Associação esteve sempre ao lado dos agricultores vítimas de condições climatéricas adversas — das chuvas torrenciais às geadas inesperadas, das secas prolongadas aos danos provocados por intempéries imprevistas. Também não deixámos de exigir, ao longo dos anos, a conclusão do regadio da Cova da Beira e o regadio da região sul da Gardunha, imprescindíveis para a sustentabilidade das nossas produções.

A gestão eficiente dos recursos hídricos, a preservação da qualidade ambiental e a eficiência dos apoios públicos ao setor agrícola são pilares fundamentais da nossa atuação.

Nos anos seguintes à nossa fundação, fomos uma peça-chave na luta por uma distribuição justa dos apoios financeiros, reclamando que os agricultores de Castelo Branco tivessem acesso aos mesmos recursos e apoios que os agricultores das outras regiões do país.

Porém, a nossa luta não parou por aqui. Também a gestão cinegética, com ênfase no controlo da população de javalis, e indemnização justa aos lesados, foram sempre bandeiras que defendemos. O impacto desses animais nas culturas agrícolas é uma dura realidade que muitos dos nossos associados enfrentam diariamente. A segurança e a sustentabilidade das explorações agrícolas exigem um equilíbrio entre a agricultura e a fauna selvagem, e a nossa Associação tem sido implacável na busca por soluções para este problema.

A nossa maior força sempre foi a união. A capacidade de nos organizarmos, de nos apresentar como uma frente comum, seja nas negociações com o Governo ou com as entidades europeias, foi essencial para alcançarmos as conquistas de que hoje nos orgulhamos. A nossa força está na solidariedade entre os agricultores, na partilha de conhecimentos e experiências, e no apoio mútuo, para juntos ultrapassarmos os desafios que surgem.

Ao olhar para o caminho que percorremos, podemos orgulhar-nos das dificuldades que superámos e das vitórias que conquistámos. Contudo, os desafios continuam a crescer. A diminuição drástica das verbas para o setor no Orçamento do Estado do próximo ano é uma justa preocupação. O corte de quase 400 milhões de euros, somado à previsão de não execução de 739 milhões de euros, revela um desinvestimento escandaloso num setor vital para a Soberania Alimentar e para a coesão territorial, económica e social do país.

Esses cortes terão um impacto devastador, especialmente em um contexto onde as políticas do Governo e da União Europeia continuam a fortalecer os grandes interesses do comércio agroalimentar, à custa dos pequenos e médios produtores. O que vemos é um monopólio crescente nas cadeias de comercialização, onde os lucros de grandes empresas aumentam, enquanto os preços pagos aos agricultores continuam a ser baixos e os preços para os consumidores dispararam.

Entre os desafios que ainda temos pela frente, destacam-se a sustentabilidade ambiental, a modernização das infraestruturas agrícolas, a valorização da produção local e a inovação tecnológica. Esses temas exigem a nossa constante atenção e ação. A luta está longe de terminar.

É com um espírito renovado de determinação e compromisso que a nossa Associação continua a trabalhar, em defesa dos agricultores de Castelo Branco.

Queremos continuar a ser um elo de união, a fortalecer a nossa voz e a avançar com confiança rumo ao futuro.

Agradeço, de coração, a todos os associados — presentes e ausentes — pelo trabalho árduo, pela dedicação e pela perseverança que demonstraram ao longo destes 35 anos. A vossa contribuição é o alicerce desta Associação. Sem a vossa força e empenho, não teríamos chegado até aqui.

Quero também evocar, de forma especial, todos os sócios fundadores e aqueles que, ao longo dos anos, ocuparam cargos diretivos e, com a sua dedicação, colocaram a nossa Associação como uma das mais importantes instituições do setor agrícola.

Que possamos continuar a olhar para o futuro com a mesma determinação e compromisso que nos trouxe até este 35º aniversário. Juntos, continuaremos a enfrentar os desafios que ainda estão por vir, sempre com o objetivo de garantir uma agricultura forte, justa e sustentável para todos.

Viva a Associação Distrital dos Agricultores de Castelo Branco!
Viva a Agricultura do nosso distrito!

Muito obrigado.