Desde a sua fundação a 1978 que a CNA mantém relacionamento com Organizações de outros Países, com o objectivo de dotar a CNA dum maior conhecimento das realidades mundiais, ao mesmo tempo que divulga a realidade nacional.
Depois da adesão de Portugal à então CEE, tornou-se ainda mais necessária esta troca de experiências para um conhecimento mais “global” das diferentes situações, pois só o relacionamento estreito entre Organizações e a maior coordenação de posições e acções a nível Europeu seriam capazes de garantir uma defesa mais eficaz da Agricultura Familiar, junto das Instâncias Europeias.
Consciente disso, em 1992, a CNA aderiu à Coordenadora Agrícola Europeia (CPE), hoje a Coordenadora Europeia Via Campesina, que congrega Organizações de diversos países da Comunidade.
Face à globalização e internacionalização da política e do comércio agrícola e à crescente agressão das multinacionais à actividade agrícola, tornou-se fundamental definir novas estratégias a uma escala mundial. Nasce, então, a Via Campesina (LVC), movimento agrícola internacional, que junta organizações de todos os continentes e regiões do Mundo. A CPE foi uma das fundadoras deste movimento e, através dela, a CNA teve oportunidade de participar na LVC desde o início, contribuindo para o seu crescimento e tendo assumido ao longo dos tempos diversas responsabilidades em representação da região Europa.
A La Vía Campesina, fundada em 1993, é um movimento internacional que reúne milhões de camponeses, trabalhadores sem terra, povos indígenas, pastores, pescadores, trabalhadores agrícolas migrantes, pequenos e médios agricultores, mulheres rurais e jovens camponeses de todo o mundo. Construído sobre um sólido sentido de unidade e solidariedade, defende a agricultura camponesa para a soberania alimentar.
A LVC explica que a Soberania Alimentar é o direito dos povos a alimentos saudáveis e culturalmente apropriados, produzidos através de métodos ecologicamente corretos e sustentáveis, e o seu direito a definir os seus sistemas alimentares e agrícolas. A Via Campesina insiste que os modos de produção agroecológicos diversificados e orientados para os camponeses, baseados em séculos de experiência e provas acumuladas, são fundamentais para garantir uma alimentação saudável para todos, mantendo-se em harmonia com a natureza. Para alcançar a soberania alimentar, a Via Campesina mobiliza e defende a reforma agrária nos territórios camponeses e oferece formação sobre métodos de produção agroecológicos.
O crescendo de actividade internacional tornou ainda mais urgente a necessidade de uma Representação Permanente da CNA em Bruxelas, a qual, aliás, há muito reclamávamos. Tratava-se de atender, não a um capricho, mas a um direito que assistia à CNA: outras organizações agrícolas nacionais tinham já uma Delegação em Bruxelas, conseguida com apoio público logo desde a adesão de Portugal à CEE!
Foi em 1996 que esse direito foi concretizado. Em Dezembro desse ano inaugurou-se, finalmente, a Representação Permanente da CNA em Bruxelas.
A partir daí tem sido possível desenvolver uma actividade mais constante, consistente e consequente a diversos níveis (associativo, institucional e actividade própria), em benefício da Lavoura. Em 1998, a CNA tem finalmente acesso (em representação da CPE) aos Comités Consultivos e Grupos Permanentes da Comissão Europeia, onde são discutidos os principais dossiers agrícolas. Para além disso tornou-se possível manter contacto regular com os Deputados Portugueses no Parlamento Europeu, com a REPER (Representação Permanente de Portugal junto da UE), com as outras organizações agrícolas portuguesas presentes em Bruxelas, com a Comissão Europeia, com a Direcção Geral da Agricultura. Todos estes contactos têm-nos permitido aceder a informação atempada, acompanhar os diferentes problemas e dossiers na fonte e agir junto dos centros de decisão, em conjunto com organizações congéneres, na defesa da Agricultura Familiar e do Mundo Rural… sem nunca esquecer as especificidades nacionais!
A continuidade da CNA em Bruxelas é um sinal do que a Agricultura Familiar continua a existir e a resistir, em nome da Soberania Alimentar, de um Mundo Rural Vivo e de uma alimentação sã e segura, acessível a todos.
Se assim for, a CNA cá estará, também em Bruxelas…sempre com os Agricultores!