De 8 a 18 de Dezembro de 2024, uma delegação da Via Campesina (LVC), que a CNA integrou, viajou para a Palestina a convite da União dos Comités de Trabalho Agrícola (UAWC), uma organização membro da LVC. Esta visita teve como objectivo demonstrar solidariedade para com o povo palestiniano no meio do genocídio em curso, em Gaza, e da deslocação sistemática na Cisjordânia, enquanto se documentou em primeira mão a intensificação da ocupação israelita e das políticas de apartheid.

A delegação observou desenvolvimentos alarmantes, incluindo a confiscação de mais de 50 000 dunams (5 000 hectares) de terras palestinianas desde 7 de Outubro de 2023 e a construção de quase 900 portões de segurança que restringem a circulação em toda a Cisjordânia. Estas medidas isolaram as cidades e aldeias palestinianas, transformando a vida quotidiana numa luta pela sobrevivência no meio da expansão dos colonatos e dos controlos militares.

Durante a visita de 10 dias, a delegação percorreu as principais regiões, incluindo Nablus, o Vale do Jordão, Ramallah, Belém e Hebron, e reuniu-se com agricultores palestinianos, governantes e representantes de organizações da sociedade civil, incluindo cooperativas de mulheres, grupos de jovens e defensores dos direitos humanos. As reuniões revelaram uma realidade desoladora: políticas sistemáticas de demolição de casas, confisco de terras e restrições ao acesso à água devastaram os meios de subsistência dos agricultores e das comunidades rurais palestinianas.

A delegação ouviu também testemunhos que relatam a violência quotidiana dos colonos, protegidos e apoiados pelos militares israelitas. Os agricultores relataram histórias de ataques, destruição de colheitas e roubo de produtos agrícolas, pondo em evidência um esforço deliberado para deslocar os palestinianos e privá-los dos seus meios de sobrevivência. Estes testemunhos sublinharam a necessidade urgente de uma intervenção internacional para pôr fim a estes crimes contra a humanidade.

A agricultura palestiniana, profundamente ligada ao seu património, enfrenta ameaças existenciais decorrentes da ocupação. A delegação testemunhou a resiliência dos agricultores palestinianos e a sua firme determinação em permanecer nas suas terras apesar de décadas de deslocação e violência. No Vale do Jordão, que serve de cesta básica da Palestina, os esforços da UAWC para apoiar os agricultores através da recuperação de terras, bancos de sementes e programas de formação foram especialmente notáveis. Estas iniciativas visam preservar a soberania alimentar palestiniana e desafiar os fundamentos do projecto colonial israelita.

Um apelo à acção global

A La Vía Campesina condena o papel cúmplice dos governos ocidentais ao permitirem estas atrocidades através do silêncio e de acordos comerciais com Israel. A delegação apela a um boicote imediato aos produtos agrícolas dos colonatos ilegais israelitas e à rejeição de quaisquer acordos que apoiem a ocupação. Os governos e os defensores dos direitos humanos devem agir de forma decisiva para responsabilizar Israel e solidarizar-se com os agricultores e as comunidades palestinianas.

A hospitalidade e o espírito inabalável do povo palestiniano deixaram uma profunda impressão na delegação. A sua resiliência, generosidade e compromisso inabalável com a justiça incorporam a força necessária para superar décadas de opressão.

A La Vía Campesina reafirma o seu compromisso com a causa palestiniana e continuará a amplificar as vozes dos que estão na linha da frente. O regresso da delegação marca o início de iniciativas de solidariedade renovadas, com planos para partilhar testemunhos e desenvolver estratégias para apoiar os agricultores palestinianos e a sua luta pela liberdade e dignidade.

Viva a Palestina e vivam os agricultores palestinianos!

Carlos Alves, membro do Conselho Nacional da CNA e dirigente da UABDA, integrou a delegação da LVC