2024-11-27
A Associação Distrital dos Agricultores do Distrito de Castelo Branco, participou no dia 26 de Novembro, numa audição na Comissão da Agricultura da Assembleia da República sobre a língua azul que tem afetado o setor pecuário. Esta Associação esteve representada pelos seus dirigentes; Aníbal Cabral, João Palma Dias e Leonel Carvalho, tendo sido feita a seguinte Intervenção:
“Exma. Senhora Presidente
Exmos. Senhores Deputados
Exmos Senhores Representantes da Ordem dos médico veterinários
A criação de pequenos ruminantes na Serra da Estrela e Beira Baixa e a excelente qualidade da Lã produzida foi uma das razões do surgimento da Indústria de Lanifícios na Covilhã, sobretudo a partir do séc. XVI, até à sua expansão no século XVIII e XIX e em toda a corda serrana. Hoje, a lã está muito desvalorizada e é uma matéria prima considerada resíduo.
A região das Beiras e Serra da Estrela, ainda agora muito recentemente, esteve em destaque no World Cheese Awards ao conquistar o título de melhor queijo do mundo com o Queijo de Ovelha Amanteigado e viu outros 23 queijos serem distinguidos com medalhas e menções honrosas.
Produzimos qualidade, mas o setor está em crise. Assistimos ao envelhecimento dos produtores e ao abandono da atividade devido aos baixo rendimento.
Na nossa região predomina a pequena e média agricultura que não tem merecido a devida atenção. O Preço dos fatores de produção (energia, raçoes, analises, sanidade…) têm sofrido aumentos brutais. A situação agrava-se com frequentes condições climatéricas adversas – secas muito severas e prolongadas colocando em causa o normal crescimento, a engorda dos animais e a qualidade do leite. Tudo isto são dificuldades que os produtores têm que enfrentar e que não se fazem refletir nos preços pagos aos produtores tanto no leite como na carne.
O desmantelamento e a desvalorização do Ministério da Agricultura, com a eliminação de serviços essenciais e a agregação desordenada de outros, têm agravado a confusão e desacelerado o desenvolvimento agrícola. A produção de alimentos, particularmente a pecuária em zonas desfavorecidas, exige um esforço redobrado, tornando ainda mais evidente a necessidade de um Ministério da Agricultura fortalecido. Este deve dispor de meios técnicos e políticos eficazes para atenuar as inúmeras dificuldades enfrentadas pelos agricultores e contribuir para a sustentabilidade e competitividade do setor, nomeadamente:
- Apoiar as Associações e Organizações de Produtores pecuárias
- Maior acompanhamento no campo por parte do Ministério da Agricultura e da DGAV para melhor monitorização das situações e reportar atempadamente os acontecimentos permitindo decisões mais informadas.
- Reduzir ou acabar com burocracia desnecessária e complicada.
- Projetar e concretizar investimentos que tragam desenvolvimento aos territórios, nomeadamente o regadio, o ordenamento florestal e rural.
- Voltar a ativar os vários laboratórios regionais, bancos de ensaio e pesquisa, que neste momento teriam sido muito importantes para atenuar as consequências e combater esta nova estirpe da língua azul.
Este problema sanitário era previsível. As Organizações de Produtores (OP's) e os produtores deviam ter sido alertados oportunamente, se a monitorização dos serviços oficiais estivessem em alinhamento com os interesses dos produtores pecuários o problemas seriam atenuados.
Com base em fonte da DGAV, os casos de língua azul notificados em Castelo Branco revelam um impacto significativo: o número de Explorações afetadas são 88
⦁ Animais com sintomas (incluindo mortos): 3.689
⦁ Animais mortos (não inclui abortos): 933
⦁ Abortos: 270
os concelhos mais afectados são:
⦁ Castelo Branco: 30
⦁ Idanha-a-Nova: 41
A realidade deste surto como a língua azul pode ser mais abrangente do que os números oficiais indicam, porque muitos casos não são reportados.
Infelizmente este problema não está resolvido e vai certamente voltar a afetar-nos nos próximos anos, com novas estirpes. Se não forem tomadas medidas de prevenção como a vacinação preventiva gratuita de acesso universal, incluída no Programa de Sanidade Animal (PSA), a situação irá provocar graves prejuízos com as mortes e consequente redução da produção de leite e carne.
A ausência de sanidade animal é um problema de saúde publica e é preciso apoiar os produtores a suportar os custos com a vacinação para garantir rebanhos saudáveis.
É preciso investir num plano de Controlo Sanitário (monitorização, vacinação e desinfeção) para travar a propagação da doença.
Defendemos que o Governo deve atribuir apoios extraordinários aos produtores de pequenos ruminantes lesados para suprir as perdas sofridas e que deve criar resistência à importação desregulada de leite e de animais. É importante garantir a qualidade e segurança alimentar dos portugueses.”