2024-03-04
Sem fazer comparação com as dificuldades que a Agricultura Familiar enfrenta noutras regiões do mundo, apenas digo que a Agricultura Familiar está a ser massacrada pelas medidas de política e económicas da União Europeia e das grandes corporações do agronegócio internacional.
Nos últimos 17 anos (até 2020) foram eliminados 9,1 milhões de explorações agrícolas na União Europeia, principalmente as da Agricultura Familiar, a um ritmo de 800 por dia. Das Ajudas da PAC, 80% vão para apenas 20% das maiores explorações. Mesmo assim, 64% das explorações são da Agricultura Familiar.
Confrontamo-nos com políticas que favorecem o negócio internacional em vez de cuidar da alimentação das suas próprias populações.
A União Europeia é o principal importador de commodities e o maior exportador de produtos transformados. O comércio internacional triplicou nos últimos 20 anos, a um ritmo de 5,6% ao ano.
O facto de a União Europeia ser considerada como região doadora não quer dizer que todos os agricultores sejam ricos.
Quem necessita de terra para viver não a abandona!
A Agricultura Familiar está a ser massacrada pela produção industrial, pela grande distribuição internacional, pela penetração do capital financeiro na produção, pelo uso não agrícola da terra, como a invasão de painéis solares fotovoltaicos, por políticas de preços em que muitas vezes vendemos o fruto do nosso trabalho abaixo do custo de produção.
Com a destruição da Agricultura Familiar na União Europeia, com as profundas desigualdades sociais, com os milhões de pessoas que sofrem de fome, é necessário que a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, na sigla em inglês) e o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) repensem a sua relação com a União Europeia.
Intervenção feita na reunião do Comité Directivo Internacional (CDI) da Década das Nações Unidas para a Agricultura Familiar 2019-2028 (UNDFF), realizada a 29 de Fevereiro. Alfredo Campos, do Conselho Nacional da CNA, é membro do CDI da UNDFF em representação da Coordenadora Europeia Via Campesina (CEVC).