2024-02-07
Caderno de Reclamações aprovado na Marcha Lenta de Agricultores, promovida pela CNA e Filiadas, em Vila Real, a 7 de Fevereiro, a ser entregue aos Órgãos de Soberania e Partidos Políticos.
Mais pequenos e médios agricultores, mais agricultura familiar, mais produção nacional, pela Soberania Alimentar do País!
A Agricultura Familiar tem muitas razões para lutar e temos reclamações para melhorar a vida das agricultoras, dos agricultores e dos compartes para a alimentação das populações!
As 8 medidas urgentes de defesa da Agricultura Familiar, dos Baldios e do Mundo Rural:
1. Preços justos à produção para rendimento justo de quem alimenta as populações
Os agricultores continuam a ser o elo mais fraco da cadeia agro-alimentar, com uma baixa constante dos preços à produção. Exigimos uma intervenção do Governo para garantir o escoamento a preços justos para a produção nacional, salvaguardando os rendimentos e a vitalidade das explorações agrícolas:
Combater a especulação nos preços dos factores de produção:
Recusa dos “Tratados Comerciais de Livre Comércio”, como o UE-Mercosul que esmaga os pequenos e médios agricultores de cá e do lado de lá do Atlântico e prejudica o ambiente.
2. Defesa de áreas úteis utilizadas pelos compartes, uma herança e recurso vital para sustento da agricultura familiar e cumprimento da lei dos Baldios
Recusamos o ataque feroz e discriminatório aos Baldios e aos seus Compartes, que limita a prática de pastoreio, na discriminação do acesso aos apoios para quem produz em zonas de montanha e as sucessivas tentativas de apropriação da propriedade comunitária parte dos grandes grupos económicos.
Exigimos a elegibilidade da totalidade da área baldia para efeitos das ajudas da PAC, já que são áreas essenciais para alimentação dos animais das pequenos e medias explorações.
3. Uma PAC justa com ajudas só para quem produz
Apesar de todos estarmos no Mercado Comum, em Portugal cerca de 40% dos agricultores não beneficiam de qualquer apoio direto da PAC. E 90% dos que conseguem “entrar” na PAC apenas recebem 30% das ajudas da PAC, apesar de representarem 50% do Valor Produção Padrão (VPP) e possuírem apenas 25% da SAU.
Este caminho de injustiça tem de ser revertido. Por isso exigimos:
4. Cumprir o Estatuto da Agricultura Familiar
A concretização, plena e estruturada, das medidas preconizadas no Estatuto da Agricultura Familiar é fundamental para desenvolver as explorações agrícolas familiares, que constituem mais de 90% dos agricultores do país.
5. Indemnização aos agricultores pelos prejuízos causados por animais selvagens
Os prejuízos provocados nas culturas, florestas e explorações pecuárias por animais selvagens mantem-se sem resposta e a alimentação destes animais não pode ser feita à custa do trabalho e do investimento dos agricultores. Exigimos:
6. Direito ao acesso à terra, aos recursos naturais e a um ambiente equilibrado para produzir e promover a nossa soberania alimentar
As políticas do “produzir para exportar” de sucessivos governos, os escandalosos lucros da grande distribuição internacional, a pressão exercida por grandes grupos económicos e financeiros para instalação de extensas monoculturas super-intensivas, produção de energia ou para créditos de carbono tem levado ao aumento da exploração sobre produtores e consumidores, ao açambarcamento da terra, dos benefícios do investimento público no regadio e de outros recursos. O Governo tem de defender o interesse nacional e garantir o acesso prioritário dos pequenos e médios agricultores à terra e a outros recursos para a produção de alimentos de proximidade, enquanto condição determinante de protecção do ambiente e de mitigação e adaptação às alterações climáticas. Exigimos:
7. Devolver a Casa do Douro aos viticultores durienses
Exigimos a concretização do processo eleitoral para a Casa do Douro, colocando-a em condições de garantir o escoamento do vinho do Porto e do Douro, e de assegurar preços justos e rendimentos dignos para os viticultores, em particular, para os pequenos e médios produtores familiares.
8. Um único Ministério da Agricultura, das Florestas e do Desenvolvimento Rural forte e serviços públicos de qualidade no Mundo Rural
Retalhar as competências da Agricultura, da Floresta e do Desenvolvimento Rural por três Ministérios foi uma medida política que prejudicou a Agricultura Familiar, a parte maioritária do sector agro-florestal, desvalorizando a sua importância económica e social bem como a sua influência positiva e directa sobre o Mundo Rural.
Portugal precisa de um Ministério da Agricultura que abranja as áreas da Floresta e do Desenvolvimento Rural, com competências reforçadas e com meios e recursos humanos para apoiar o trabalho e a gestão das explorações agrícolas familiares em todo o território nacional. Assim como de serviços públicos de saúde, ensino, transporte e comunicações.
CNA e Filiadas
Vila Real, 7 de Fevereiro de 2024
Marcha Lenta da Agricultura Familiar