2022-09-19

A (quase) derrota dos Porcos

 

Por João Dinis*

Depois de algumas conversas ocasionais com o suinicultor – aquele (ou aquela) que cria porcos – visitámos o espaço que ainda é o da sua exploração. Fica na freguesia de Nogueira do Cravo, concelho de Oliveira do Hospital, num pequeno vale aconchegado com áreas ainda agricultadas e áreas onde, hoje, se desenvolvem matagais.

Tempos atrás, tudo por ali era agricultado – nas “quintas” e “propriedades” – e havia Floresta de tipo mais tradicional (pinhal). Sobretudo a Agricultura de tipo familiar e a Floresta de “uso múltiplo” (não intensiva) ocupavam harmoniosamente este território e assim se mantinha boa parte de suas gentes.

Há já algumas décadas, também “reina” por aqui a PAC, Política Agrícola Comum, que está pensada e é executada ao ritmo dos interesses dos maiores proprietários e do grande agro-negócio e que, exactamente por isso, arruína a Agricultura Familiar e o Mundo Rural. Quanto à Floresta, na zona e na região, manda a grande indústria de transformação de madeira, no caso de rolaria para estilha, e assim impõe baixos preços na produção.

Ultimamente, passaram por aqui incêndios trágicos e desastrosos em 2017. Veio a pandemia. Agudizou-se a seca que anda pelo piorio – seca extrema. Os custos de produção agrícola, pecuária e florestal estão caríssimos, com combustíveis, electricidade, maquinaria e alimentação animal, de entre outros custos, a preços especulativos e por isso ruinosos para quem produz. Os preços à produção estão longe de compensar todo o brutal aumento dos custos de produzir e seja lá o que for! Afinal, são vários desastres a acumularem dificuldades em cima de dificuldades sobre quem produz e quer continuar a produzir!

 

Exploração Pecuária em “vias de extinção” caso não cheguem ajudas!

Esta exploração já teve 60 porcas parideiras – Bísaras a cruzar com Bísaros – para comercializar leitões preferencialmente para recria – a saírem vivos da exploração, entre 12 e 15 Kg o animal e numa base de 60 euros cada. Porém, em consequência directa das enormes dificuldades, o suinicultor com quem estivemos tem agora meia dúzia de porcas e a reduzir…  Aliás, informa que com os problemas com a alimentação das fêmeas prenhas, os leitões nascem mais pequenos, logo mais leves, logo menos valiosos tendo em conta a venda directa e a curto prazo. Ainda assim, vendeu os leitões e também vendeu quase todas as porcas. Tem agora uma (mini) exploração de suinicultura, por assim dizermos, “em vias de extinção”! Está ele com uns 50 anos de idade, portanto em plena fase produtiva, mas assume que vai ter de encerrar a exploração caso não surjam ajudas (anti-crise) de facto compensadoras e urgentemente!  Está farto de promessas e outras propagandas com que (obviamente) “não consegue alimentar os animais”!...

De nossa parte – e estivemos nesta exploração também como dirigente da CNA – demos várias informações ao suinicultor – designadamente sobre as indispensáveis ajudas. Ao mesmo tempo, uma palavra de confiança em melhores dias – lutamos por isso – também pode dar um pouco mais de ânimo a este suinicultor. Mas sabemos bem que “só” com palavras – embora importantes palavras – de facto não vai alimentar as suas porcas e os seus leitões...

Entretanto, aqui se agradece a disponibilidade deste suinicultor para nos levar a visitar a sua exploração.

Sim, precisa-se de ajudas realmente excepcionais e suficientes, a partir do Ministério da Agricultura e do Governo, no caso à Suinicultura de tipo Familiar! Vamos lutar por elas!   

Podem contar com a CNA e Filiadas!

*João Dinis - membro da Direcção da CNA e dos Órgãos Sociais da Associação Distrital dos Agricultores de Coimbra (ADACO)

 Oliveira do Hospital - Setembro de 2022

Foto tirada dentro desta exploração pecuária (porcas e leitões). Em primeiro plano, vê-se um bonito cão Serra da Estrela que faz guarda, com outros dois cães, ao espaço da exploração. Afinal, e devido às enormes dificuldades enfrentadas pelo suinicultor, a sua exploração tem agora quase tantos cães (não são para venda...) como tem porcos... Ajudas à suinicultura de facto excepcionais precisam-se, e depressa!