2022-03-11
A Ruralentejo, filiada da CNA, numa altura em que o sector agrícola vive tempos de grandes dificuldades, deixa várias perguntas que necessitam de repostas urgentes, nomeadamente: “Como é que se pode ajudar a contrariar a desertificação do interior, se o Governo não apoia aqueles que ainda persistem em viver, cultivando e produzindo, quando o que produzem não é valorizado, de forma a incentivá-los a continuar a produzir?”
Em defesa do mundo rural e de quem trabalha a terra, delegações de agricultores alentejanos participarão na iniciativa promovida pela CNA no dia 24 de Março em Braga.
Sem respeito por nós, como se pode ser agricultor familiar neste País?
Sim, porque somos hoje provavelmente a classe mais abandonada à nossa sorte em Portugal.
Como é que se pode ajudar a contrariar a desertificação do interior, se o Governo não apoia aqueles que ainda persistem em viver, cultivando e produzindo, quando o que produzem não é valorizado, de forma a incentivá-los a continuar a produzir?
Com um Estatuto da Agricultura Familiar aprovado, mas distribuído por várias gavetas de vários Ministérios, e não regulamentado, ao serviço de oportunidades que não sabemos bem quais, nem a quem servem, quatro anos depois ainda aguardamos notícias.
Com uma seca severa às costas e sem qualquer indício de melhoria, já com as culturas de outono/inverno irremediavelmente perdidas a par das pastagens e forragens para alimentar os nossos animais, e as de primavera/verão seriamente comprometidas, quantos sobreviverão?
Com os combustíveis ao preço especulativo e proibitivo a que se encontram, em nome de uma guerra para a qual não contribuímos, para quando um preço estável para todos os factores de produção?
Com os preços à produção estagnados e em muitos casos mais baixos do que estavam há trinta anos, apesar dos preços aos consumidores nunca deixarem de subir, mais uma vez em nome da especulação, e sem regras estabelecidas em nome do sacro-santo mercado, e sem que se reflictam nos preços á produção, em nome de que interesses é que nos pedem que continuemos?
Com os animais selvagens sem controle de qualquer espécie, e sem que alguém assuma devidamente o pagamento dos prejuízos por eles causados, só falta pedirem-nos para mudarmos a cama para junto das nossas culturas.
Com um Governo a fazer de morto e em silêncio sobre todas estas questões, e uma União Europeia mais interessada em manter desligadas as ajudas da produção, indexando-as á superfície, e desde logo ao serviço dos mesmos de sempre, resta-nos, sem desânimos, o caminho da rua, protestando, e reclamando outras e melhores políticas, ao serviço da alimentação do povo Português, que pode muito bem vir a estar ameaçada quando menos o esperarmos.
Por tudo isto e por mais algumas coisas que ficaram por dizer, delegações de agricultores Alentejanos participarão na iniciativa promovida pela CNA no dia 24 de Março em Braga.
Évora, 10 de Março de 2022
Pela Ruralentejo e pela Delegação da CNA no Alentejo