2019-09-05

Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050 (RNC 2050) - Agricultura/Pecuária

Por João Dinis

 

“… Todo o mundo é composto de mudança. Tomando sempre novas qualidades.

…E afora este mudar-se cada dia,            Outra mudança faz de mor espanto:

Que não se muda já como soía”  (“como soía” =  como de costume).

                                                        Camões 

 

Estes versos premonitórios foram escritos há mais ou menos 450 anos pelo sábio Camões.  Sim, enquanto houver mundo, haverá nele mudanças/alterações… Com novas características...

Mas revisitando-se o tema do chamado “Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050 – RNC 2050” pois apesar de o nosso País se manter abaixo da sua “quota” anual de emissões de “GEE, Gases do Efeito Estufa” para a atmosfera, o Governo Português indo mais longe que o proposto no “Acordo do Clima de Paris” e pela própria UE, de imediato decreta que Portugal vai atingir a “neutralidade (económica) carbónica” até ao ano de 2050.  Donde, para o sector Agro-Florestal, logo apareceram os “mata vacas” mais declarados – nos quais o Ministro do Ambiente se mostrou ser um grande entusiasta – a propor a redução sincronizada até 2050, de até metade (50%) do actual efectivo pecuário, em especial nos Bovinos (Leite e Carne)!  Ora, tamanha “sentença de morte” de imediato provocou duras reacções “contra” por parte de várias Entidades e Sectores, incluindo a CNA.

Ao mesmo tempo, para a Floresta – reconhecidamente o grande “sumidoiro” (retenção) de Carbono, CO2 – as projecções governamentais confiam demasiado em que S. Pedro “mande chover” no Verão para que, assim, não aconteçam os extensos e violentos Incêndios Florestais a consumir grandes áreas verdes (“sumidoiros” naturais do Carbono) e a devolverem à atmosfera, com o fogo, milhões de toneladas de CO2 “sequestrado” (retirado da atmosfera e acumulado nas plantas), durante décadas, sobretudo pelas Árvores que entretanto vão ardendo…

Mas uma questão que o Governo Português foge de encarar é que até já temos mais que a “neutralidade carbónica” se se relacionar a Agricultura e a Floresta nacionais porque são maiores as retenções (CO2) que as emissões de GEE. Portanto, tendo em conta os valores em causa na “balança carbónica” das actividades agro-florestais – o das emissões de GEE e o das retenções de Carbono – é legítimo considerar, à partida, que não há razão a justificar a grande redução de emissões a impor à custa da Pecuária!

 

No actual “RNC 2050”, Governo muda formulações para esconder objectivos contraditórios

O Governo, no actual “RNC 2050”, mudou o discurso do qual desapareceram as quantificações práticas dessa redução de facto dos efectivos Pecuários. Trata-se de “amaciar” as reacções “contra” e camuflar objectivos práticos porquanto, embora escondidas, lá se mantêm as intenções tendentes para a redução dos efectivos da Bovinicultura a pretexto da redução das emissões de GEE.

Porém, o mesmo Governo, enquanto “decreta” a tal “neutralidade carbónica até 2050” autoriza e até fomenta a instalação – agora – de mega Explorações de Bovinos (carne e leite) – acima das mil cabeças cada Exploração e muito ligadas a cadeia(s) de Hipermercados. Ou seja, quantas outras pequenas e médias Explorações de Bovinicultura vão ser “abatidas” até 2050 para dar “quota” de mega produção de GEE (e de leite e carne…) a estas e a próximas mega Explorações Pecuárias? Eis, pois, outra das questões a que o Governo tem fugido a dar respostas esclarecedoras. Esperteza saloia… Porém, aquilo que o Governo também deve fazer para combater as “alterações climáticas” e promover a “poupança” de recursos naturais, é dar prioridade à Agricultura Familiar e aos modos de produção sustentável. É apoiar as pequenas e médias Explorações Pecuárias e a Floresta Multifuncional.

 

Para isso – “A luta continua!”.