Não se trata de um modernismo, de uma moda. Trata-se de uma prática milenar, em uso desde que o ser humano começou a lançar as sementes à terra e a domesticar animais.
A Agroecologia caracteriza-se por produzir alimentos saudáveis, respeitando e protegendo a natureza de que todos dependemos.
Esta prática foi violentamente afrontada pelo crescente modelo produtivista, intensivo e monocultural, com o uso de produtos químicos de síntese, delapidador dos recursos naturais e da biodiversidade, vinculado à grande distribuição de bens alimentares, a nível nacional e internacional, responsáveis pela eliminação de milhões de explorações agrícolas e da persistência da fome, particularmente nas regiões rurais.
A Agroecologia é indissociável da promoção da Agricultura Familiar e da Soberania Alimentar, o direito de cada povo a decidir o que produzir para assegurar o seu sustento económico e alimentar.
Atingir a Soberania Alimentar só é possível com a transformação dos modelos de produção actualmente dominantes para um modelo agrogeológico. Na vertente que a agroecologia não se esvazia, nem é principalmente uma abordagem científica dos agroecossistemas e dos sistemas alimentares, nem nos princípios e nas práticas que a promovem, mas bebe do movimento associativo da agricultura camponesa, assente em princípios de justiça social e económica.
Princípios consagrados na Declaração dos Direitos Camponeses e outras pessoas do Mundo Rural, aprovada na Assembleia Geral da ONU em Dezembro de 2018, culminando uma luta de 17 anos iniciada pela Via Campesina e que foi ganhando cada vez mais apoiantes, que a suporta e conduz. Pelo que, os movimentos sociais e os agricultores organizados, pelo pensamento e pela acção transformadora, enfrentando o modelo produtivista, terão a capacidade de transformação de forma de produzir os alimentos, como distribuí-los assim como estabelecer relações sociais e económicas justas com as populações consumidoras, sempre e colectivamente em harmonia com a natureza.
Algumas vertentes principais da agroecologia:
Ambiente
- Interação, sinergia, integração e complementaridades positivas entre os elementos dos agro-sistemas e os sistemas alimentares.
- Cria e conserva a vida do solo de forma a criar condições favoráveis para o crescimento das plantas.
- Optimiza e encerra ciclos de recursos ao reciclar nutrientes e biomassa.
- Recupera e melhora a biodiversidade acima do e no solo (espécies e variedades, de recursos genéticos, variedades/raças adaptadas localmente, ao nível dos terrenos, das exploração agrícolas e paisagístico).
- Uma gestão ecológica que elimina o recurso e a dependência de ajudas sintéticas externas.
- Apoia a adaptação climática e a resiliência, ao mesmo tempo que contribui para a mitigação (redução e retenção) da emissão de gases.
Cultural e Social
- Está enraizada na cultura, identidade, tradição, inovação e conhecimento das comunidades locais.
- Contribui para dietas saudáveis, diversificadas, regionalizadas, sazonais e culturalmente adequadas.
- Bebe na experiência e conhecimento colectivo, promove contactos horizontais (agricultor a agricultor) para partilha de conhecimentos,.
- Cria oportunidades e promove a solidariedade e a troca de ideias entre povos culturalmente e geograficamente diversos e entre populações rurais e urbanas.
- Respeita a diversidade entre as pessoas em relação ao género, à raça, à orientação sexual e à religião, cria oportunidades para os jovens e as mulheres e incentiva a liderança das mulheres e a igualdade de género.
- Não requer uma certificação externa dispendiosa pois depende, principalmente, da relação produtor-consumidor e de transações baseadas na confiança e no valor mutuamente justo, promovendo alternativas à certificação, como o Sistema Participativo de Garantia e Agricultura Apoiada pela Comunidade.
- Apoia as pessoas e as comunidades na manutenção das relações emocionais e materiais com a terra e o ambiente.
Economia
- Promove redes de distribuição curtas e justas e constrói uma rede transparente de relações entre produtores e consumidores.
- Ajuda a promover uma vida digna das famílias de camponeses e contribui para tornar os mercados locais, as economias e o emprego mais robustos.
- Apresenta uma visão de uma economia social e solidária.
- Promove a diversificação dos rendimentos na agricultura, dando aos agricultores uma maior independência financeira, aumenta a resiliência ao multiplicar as fontes de produção e meios de sustento, promovendo a independência de proveitos externos à actividade produtiva e, através do seu sistema diversificado e equilibrado,.
- Aproveita o poder económico e social dos mercados locais, permitindo que a Agricultura Familiar venda os produtos a preços justos e respondam ativamente à procura das populações.
- Reduz a dependência externa e aumenta a autonomia das comunidades ao proporcionar meios de sustento e de dignidade sustentáveis.
- Promove o abastecimento de instituições públicas, garantindo a acesso a uma alimentação de qualidade.