2021-04-21

A CNA faz 43 anos sempre presente na luta dos Agricultores

Por Alcina Fernandes

A CNA nasceu da vontade de milhares de Agricultores reunidos no ENCONTRO da LAVOURA, em Coimbra, a 26 de Fevereiro de 1978. Nasceu também da necessidade que os agricultores sentiam para, em união, desenvolverem todos os esforços para tornar visível e reconhecida a agricultura. Na preparação desse Encontro foi necessário não só estabelecer a organização para o próprio dia, como igualmente foi determinante a divulgação e o contacto com os Agricultores, chamando-os à união pretendida. Então, um grupo central de Agricultores fixaram os objectivos a atingir, como seja o da criação da CNA, como sua entidade representativa capaz de, em termos globais, resistir organicamente às adversidades enfrentadas pela agricultura, questionar e discutir todos os aspectos da vida rural, sempre zelando e lutando pelos direitos dos Agricultores.
Todo o Encontro da Lavoura foi entusiasmante. Vários Agricultores, muitos até, intervieram dando a conhecer aos outros o que os preocupava, os problemas que na sua região defrontavam, partilhando vivências e desejos. Foi um dia de trabalho intenso, fazendo brotar o sentimento de união quanto aos problemas e propósitos. De tal modo que o momento de aprovação da criação da CNA levou ao rubro todos presentes. E, igualmente, foi acarinhada e votada a Carta da Lavoura, que passou a constituir um pilar da acção da CNA. No Encontro da Lavoura os Agricultores demonstraram todo um rigor nas questões apresentadas, a paixão vivida pela agricultura, um enorme civismo (muito embora sem formalismos exagerados). Tudo isto num entusiasmo espontâneo de toda a Assembleia, como uma irmandade que, então, surpreendeu os diversos convidados e os órgãos de comunicação social. Este dia de fundação da CNA foi um dia de afirmação da Agricultura e dos Agricultores como o demonstraram as diversas intervenções, conversas ou entrevistas. Simultaneamente, com segurança, pode-se afirmar que foi um importante dia de luta dos Agricultores. Mas, os Agricultores, pelo convívio uns com os outros, pela alegria demonstrada, pelos ditos divertidos multiplicados aqui e além, dele fizeram também um dia de festa.
Porém, como tudo na vida, este grande Encontro do qual resultou a criação da CNA não “caiu dos céus aos trambolhões”. Foi precisa organização e divulgação, alertando e chamando os Agricultores. Assim foi. As organizações locais e regionais, os Agricultores, em reunião, estabeleciam o que pretendiam e o que deveria ser feito. Os Agricultores mais próximos de Coimbra formavam um núcleo central. Como não podiam abandonar a Lavoura, conseguiram juntar um grupo de jovens estudantes voluntários. Estes também estruturaram o seu trabalho. Como não eram muitos criaram a seguinte dinâmica: estavam sempre presentes na sede – que entretanto havia sido arrendada na Rua Visconde da Luz pelos Agricultores – um ou dois jovens, conforme o trabalho que existia, e os demais passavam o dia em contactos com os Agricultores, alertando-os para a realização do Encontro e ouvindo os seus problemas e as suas aspirações. Ao fim do dia, no regresso, deixavam na sede as considerações que tinham por importantes, as quais eram avaliadas por um Agricultor de perto e por quem fazia o trabalho na sede. Na sequência da avaliação, era planeado o trabalho dos jovens apoiantes para o dia seguinte. Na manhã seguinte, antes de regressarem ao contacto com os Agricultores iam à sede da CNA e recebiam, discutindo até com um colaborador residente na sede, o trabalho que haviam de fazer. Também entre os jovens se gerou uma forte amizade que, na maioria dos casos, ainda hoje perdura e, na verdade, é também para eles um dia memorável em que se sentiram úteis e valorizados na preparação e no sucesso do Encontro. No apoio ao Encontro da Lavoura, todos nós activistas vivemos momentos que os tempos não conseguem retirar da nossa memória. Foi no apoio ao Encontro da Lavoura que vivi momentos fortemente intensos, de respiração suspensa. Eu e mais dois apoiantes fomos de automóvel por zonas do Baixo Mondego a colocar cartazes. Seguimos pela margem esquerda, por Taveiro, e fomos andando sempre pensando que o tempo não passava. Já noite fechada, continuávamos a colar cartazes, principalmente nos apeadeiros. Perto de Verride, entendemos por bem que deveríamos regressar a Coimbra e decidimos voltar pela outra margem. Logo que foi possível, virámos em direcção à Ereira, para alcançarmos a estrada larga de Montemor para Coimbra. Embora soubéssemos que as águas do Mondego iam altas, não pensámos que naquela hora pudessem colocar Ereira isolada. Chegámos bem a Ereira, embora com cuidados redobrados. Aí, vimos que não seria fácil. Agricultores que faziam a vigilância da aldeia disseram-nos, então, que ainda poderíamos passar para Montemor, mas que daí a meia hora já não poderíamos fazê-lo. Mesmo assim, avançámos e entrámos na estrada que, muito embora ainda não submersa, já tinha água a banhá-la. Aqueles poucos quilómetros foram feitos a uma velocidade mais elevada do que seria de esperar. Rapidamente chegámos ao fim da estrada com água. Pareceu uma eternidade e quando nos libertámos do pesadelo, um profundo suspiro brotou das nossas bocas.
Foi um grande susto e a viagem de regresso foi em silêncio, aqui e ali interrompido com uma ideia ou dica de um de nós, mas que invariavelmente não obtinha resposta. Contudo, na manhã seguinte, lá estávamos nós na sede do Encontro da Lavoura, entusiasmados, para um novo dia da futura CNA.
Como aconteceu o Encontro da Lavoura, já acima vai dito, de forma sumária.
Importa, agora, para terminar, dizer que aí, para além da aprovação da criação da CNA, foi igualmente votada a denominada Carta da Lavoura, importante documento que, infelizmente, 43 anos decorridos, ainda está em grande parte por cumprir, embora as políticas e medidas públicas para a sua concretização estejam sempre presentes em cada luta dos Agricultores sempre reclamadas com vigor e determinação. Só pela indiferença dos poderes públicos se pode compreender a não concretização das aspirações da Agricultura. E, aquelas que se têm conseguido, só o foram pela intervenção diferenciada da CNA, que sempre honrou o seu compromisso com os Agricultores.
Por isso, o seu aniversário não pode passar em vão.


MUITOS PARABÉNS PARA A CNA. QUE PERDURE NA DEFESA DOS INTERESSES E DIREITOS DOS AGRICULTORES.